Crucifiquem a homofobia

Aconteceu ontem (07) em São Paulo, a décima nona edição da Parada LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), um dos maiores eventos a céu aberto do Brasil e do mundo na luta contra a homofobia.

Com o tema: “Eu nasci assim, Eu cresci Assim, Vou ser sempre assim: Respeitem-me!”, à Avenida Paulista foi tomada por um multidão de pessoas que reivindicavam direitos e respeito.

Em meios aos protestos e cartazes, não faltaram críticas a políticos, de maneira bem mais enfática ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB – RJ).

Trios elétricos com participações especiais de celebridades, como as atrizes Uzo Aduba, Natasha Iyonne e Samira Wile da série americana da NetFlix “Orange Is The New Black”  e travestis e transexuais com suas fantasias cheia de cores, foram um show à parte. O grande destaque ficou por conta da modelo Viviany Beleboni, que veio “pregada na cruz” em cima de um trio, fazendo uma analogia à crucificação de Cristo.

O protesto de Viviany encanta pela sutiliza e pela metáfora que ela faz aos inúmeros membros da comunidade LGBTT que são diariamente crucificados pela religião. As críticas foram inúmeras a atitude da modelo, tanto positivas quanto negativas.

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, sendo também um dos mais homofóbicos. Viviany, que também é travesti, argumenta que em momento algum pensou na polêmica que sua atitude poderia causar, e sim, em homenagear suas amigas que foram mortas vítimas da intolerância à diversidade sexual que fazem inúmeras vítimas todos os dias.

Representei todas as mortes e agressões que vem acontecendo contra a classe LGBT e também por falta de leis. Jesus morreu por todos, foi humilhado, motivo de chacota, agredido e morto, é o que vem acontecendo diariamente com os LGBTs, afirma Viviany.

A homolesbobitransfobia no Brasil não é considerada crime. Todos os projetos de lei, protocolados e apresentados que visam criminalizar o preconceito e a intolerância sexual, são barrados pela bancada BBB (boi, bíblia e bala) da Câmara.

Inúmeras famílias são diariamente destruídas pela homofobia. Mães perdem seus filhos e muitas dessa violência contra a pluralidade sexual são motivadas por discursos estapafúrdios de pastores como Silas Malafaia e Marcos Feliciano.

Figura abjeta da Travesti

Viviany lamenta ainda as críticas vindas de membros da comunidade LGBTT, mas afirma saber que isso poderia acontecer, uma vez que a comunidade é bastante desunida, mas que mesmo assim deu a cara à tapa.

Se fosse um homem sarado e com volume aparecendo às pessoas iriam amar, tirariam fotos e fariam comentários positivos. Dei a minha cara a tapa e sabia que isso poderia acontecer, pois é uma classe desunida.

Sobre os hematomas no corpo que compõe a personagem a modelo questiona e afirma “Sai purpurina ou confete de agressão? É hematoma, é a realidade. No dia que vocês sofrerem agressões, xingamentos, apanharem, fazerem piadinhas de vocês, não reclamem e nem digam que a imagem que vêem no espelho está forte.”

A religião já crucificou e crucifica tantos homossexuais, então por que não crucificar a homofobia?

Cruz como símbolo cristão

Na época em que, segundo a Bíblia, Jesus Cristo esteve na terra, era comum que todos os condenados à morte fossem pregados em uma cruz no topo de algum morro como forma de humilhação e de agonização por seus pecados/erros/crimes. Jesus não foi o primeiro, nem o último a morrer dessa forma, mas por ser considerado o filho de Deus, e por ter sido, injustamente, morto em uma cruz, ela se tornou um objeto de devoção católica.

Tiago Minervino

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